Neste época de Natal, surgiu um anúncio publicitário curiosíssimo duma cadeira de lojas de hipermercado. Descrevo-o aqui segundo a recordação com que dele fiquei.
Uma 'voz' interroga um(a) consumidor(a) anónimo(a), sobre o seu comportamento durante o ano. Com um olhar entre o incrédulo e o desorientado, este(a) move-se em redor à procura de quem pergunta. Prontamente vários sujeitos com aspecto humano surgem (do nada?) e o(a) consumidor(a) anónimo(a), confessa, prontamente, que cometeu um pecadilho.
Por sua vez, os sujeitos com aspecto humano (que se assemelham a júris de concursos televisivos, mas com aspecto mais austero), complacentes, elencam boas acções do(a) consumidor(a) que superam o pecadilho quotidiano, concedem-lhe uma auréola, que o(a) faz trancender a condição humana, e permitem-lhes… comprar.
Comprar: eis o prémio de quem denuncia o Mal e faz o Bem! A alegria das alegrias!
Como ocidentais, penso que não podemos deixar de estabelecer um paralelismo entre estes sujeito(s) com aspecto humano e os deuses gregos olhando, lá de cima, do Olimpo para os mortais, cá em baixo, ora escarnecendo, ora cuidando, ora esperando o momento de intervir. Ou com o Deus dos Católicos, olhando também lá de cima, do Céu, para os que foram feitos à Sua Imagem, mas que, cá por baixo, desenvolveram a tendência para se desviarem da orientação divina.
Enquanto numa lógica teísta o nosso comportamento é hetero e auto-regulado para ascender à Eterna Felicidade, que há-de surgir num futuro mais ou menos distante, mas incerto; numa lógica publicitária, o nosso comportamento é directamente regulado por alguém desconhecido que, num instante, sem delongas e com toda a certeza, permite-nos ter o que (mais) desejamos.
A dúvida não pode, pois, deixar de se instalar em qualquer um: não valerá mais ter paraísos terrenos, concretos, de acesso imediato, do que paraísos celestes contingentes e adiados? Na dúvida, é de aproveitar os que temos, tão à nossa mão, num hipermercado perto de nós."
Uma 'voz' interroga um(a) consumidor(a) anónimo(a), sobre o seu comportamento durante o ano. Com um olhar entre o incrédulo e o desorientado, este(a) move-se em redor à procura de quem pergunta. Prontamente vários sujeitos com aspecto humano surgem (do nada?) e o(a) consumidor(a) anónimo(a), confessa, prontamente, que cometeu um pecadilho.
Por sua vez, os sujeitos com aspecto humano (que se assemelham a júris de concursos televisivos, mas com aspecto mais austero), complacentes, elencam boas acções do(a) consumidor(a) que superam o pecadilho quotidiano, concedem-lhe uma auréola, que o(a) faz trancender a condição humana, e permitem-lhes… comprar.
Comprar: eis o prémio de quem denuncia o Mal e faz o Bem! A alegria das alegrias!
Como ocidentais, penso que não podemos deixar de estabelecer um paralelismo entre estes sujeito(s) com aspecto humano e os deuses gregos olhando, lá de cima, do Olimpo para os mortais, cá em baixo, ora escarnecendo, ora cuidando, ora esperando o momento de intervir. Ou com o Deus dos Católicos, olhando também lá de cima, do Céu, para os que foram feitos à Sua Imagem, mas que, cá por baixo, desenvolveram a tendência para se desviarem da orientação divina.
Enquanto numa lógica teísta o nosso comportamento é hetero e auto-regulado para ascender à Eterna Felicidade, que há-de surgir num futuro mais ou menos distante, mas incerto; numa lógica publicitária, o nosso comportamento é directamente regulado por alguém desconhecido que, num instante, sem delongas e com toda a certeza, permite-nos ter o que (mais) desejamos.
A dúvida não pode, pois, deixar de se instalar em qualquer um: não valerá mais ter paraísos terrenos, concretos, de acesso imediato, do que paraísos celestes contingentes e adiados? Na dúvida, é de aproveitar os que temos, tão à nossa mão, num hipermercado perto de nós."
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