terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O ridículo e como lidar com ele

Normalmente só nos sentimos ridículos quando fazemos uma parvoíce em público. Se estamos sozinhos, podemos fazer coisas muito mais parvas ou repugnantes sem nos sentirmos minimamente ridículos. Por exemplo, uma vez decidi fazer aquela que foi a experiência mais ridícula da minha vida. Tentei andar de patins em cima de um skate. O tombo foi de tal modo grande que, mesmo sendo eu ainda uma criança ágil e resistente, fiquei sem respirar alguns segundos e senti dores durante vários dias. Na altura não me senti minimamente ridículo, porque ninguém viu e também não contei a ninguém. Parece que só sentimos o ridículo quando outras pessoas vêem ou tomam conhecimento da nossa burrice ou da nojeira que podemos fazer.
Uma vez, entre um grupo de convivas, vi uma rapariga espirituosa a contar uma anedota enquanto um longo fluxo de matéria viscosa lhe saía do nariz. Uma ou duas pessoas mais sensíveis desviaram o olhar, porque é embaraçoso fixá-lo naquilo que nos repugna. Quando se apercebeu, os efeitos fisiológicos manifestaram-se. A rapariga ficou muito corada. O sentimento de vergonha tirou-lhe a graça toda e permaneceu o resto da noite calada a tentar disfarçar o desconforto que sentia. Dois ou três dias mais tarde soube por uma amiga que lhe era confidente que chorou muito por causa disso.

Montaigne fala algures de um homem que durante uma boda foi constrangido por uma longa série de flatulências que não conseguia controlar. Não conseguia também diminuir a sonoridade dos distúrbios intestinais. Não suportava viver assim na imaginação dos outros. O constrangimento extremo levou-o ao suicídio. Terminou a vida real, porque não lidava bem com a imaginária.
Conheci um outro homem que, enquanto pedia uma mulher em casamento, na praia, foi presenteado por uma gaivota que passava por cima. Esta situação é muita embaraçosa, mesmo quando não estamos de joelhos a pedir uma senhora em casamento. No entanto, o amor é cego e o homem era desenrascado. Conseguiu continuar o pedido e ouvir o “sim” que desejava. Do meio do infortúnio saiu um sucesso e o casamento já dura há mais de quinze anos.
O ridículo aparece de muitas maneiras. É pouco económico estar protegido de todas as origens do ridículo, ou seja, evitar todos os disparates, os distúrbios físicos e todas as situações que nos expõem ao ridículo. Uma vez que não podemos evitá-lo antes de acontecer, como podemos lidar com ele depois de ter acontecido? Para já sabemos que há aqueles que lidam mal com ele e podem até mesmo suicidar-se. Sabemos também que há aqueles que, apesar de caírem numa situação constrangedora, conseguem sair dela triunfantemente. O que os distingue é, talvez, o que nos ensina a lidar com o nosso ridículo.

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